Arqueologia
No concelho de Aljezur foram até ao presente inventariados 15 arqueossítios com vestígios estruturais e materiais islâmicos, embora mais possam surgir à medida que a investigação prossegue. Estas atribuições foram essencialmente feitas segundo dois critérios – locais com ocupações confirmadas por intervenções arqueológicas e outros que foram identificados no decurso de prospeções ou através de toponímia de raiz arabizante.
Entre os principais monumentos passíveis de serem visitados destacam-se, pela sua importância e por estarem já musealizados, o castelo de Aljezur e o povoado da Carrapateira, estando em curso os trabalhos no Ribāt da Arrifana, na Ponta da Atalaia, para o qual está previsto um centro interpretativo próprio.
Ribãt da Arrifana
O Ribãt da Arrifana foi edificado na Ponta da Atalaia, a Norte da atual praia da Arrifana. O arqueossítio corresponde ao conceito de mosteiro fortificado consagrado à oração e vigilância da costa, estando associado a uma das principais figuras do mundo político e religioso do al-Andalus, o mestre sufi e madi, Ibn Qasi.
O projeto arqueológico sob a direção dos arqueólogos Rosa Varela Gomes e Mário Varela Gomes, veio colocar à vista um significativo conjunto de estruturas, entre as quais se incluem uma necrópole, várias mesquitas com quibla e mirhab e vestígios de um minarete, para além de vários compartimentos destinados a alojar a comunidade de monges guerreiros que ali habitaram até ao século XIII, sendo o único ribāt identificado no território português e o segundo existente na Península Ibérica.
Torre Atalaia Odeceixe
A Torre Atalaia Odeceixe, localizada na fronteira entre o Alentejo e o Algarve sobranceira à ribeira de Seixe, foi detetada em prospeção efetuada em 1988, devendo fazer parte de uma rede de fortificações destinada a controlar o avanço de forças cristãs ou outras sobre este território do barlavento algarvio.
Iniciados os trabalhos arqueológicos em 2007, foi possível verificar que, para além de vestígios de outra torre, a principal estrutura, com planta circular, integrava um recinto murado com pequenos compartimentos, possivelmente utilizados pela guarnição militar que a ocupou nos séculos XII-XIII. Terá sido reutilizada após a conquista cristã, provavelmente como portagem ou torre de vigia, antes de ser definitivamente abandonada.
Castelo de Aljezur
O castelo de Aljezur é o principal monumento do concelho, sobranceiro à vila que, apesar de manter no centro histórico algumas das características medievais, foi muito destruída pelo terramoto de 1755.
Localizada num cerro xistoso contornado pela ribeira de Aljezur que desagua na costa atlântica, da fortificação ainda hoje permite ampla visibilidade para a paisagem circundante, situando-se num ponto estratégico importante que fez parte integrante do sistema defensivo de Silves, pelo menos durante os séculos XII e XIII, tendo sido o último castelo islâmico a ser conquistado pelas forças cristãs no território algarvio, em 1249.
A edificação deste monumento terá sido iniciada por volta do século X, a que se seguiu a progressiva instalação do núcleo urbano que, graças as condições de navegabilidade da ribeira, teve vários cais de atracação para embarcações de calado médio a grande, além de três pontes que permitiam aceder ao hinterland.
Os registos históricos sobre este monumento são escassos, destacando-se um roteiro naval, datado de finais do século XII (1191/1193) e atribuído a Roger de Howden (ou Roger Houedone), conhecido por “De viis maris et de cognitione terrarum et montium et de periculis diversis in eisdem” (Das vias marítimas e do conhecimento da terra e dos montes e dos perigos que nelas existem). Neste relato o cruzado regista a viagem efetuada entre Inglaterra e a Terra Santa, assinalando os locais mais relevantes, entre os quais um “castellum de Alinzur”, localizado no cume de um monte (VENTURA, 2011).
O castelo de Aljezur, com planta poligonal, duas torres e uma cisterna em bom estado de conservação foi arqueologicamente intervencionado, entre 1990 e 1997, por uma equipa dirigida pelo arqueólogo Carlos Tavares da Silva que procedeu a escavações no interior das muralhas oeste, sudeste e sul, identificando vários níveis de ocupação, desde a Idade do Bronze ao início do período Moderno (séc. XVI), após o que a fortificação terá sido progressivamente abandonada.
Estes trabalhos permitiram verificar que, sob o aquartelamento do século XVI destinado a alojar a guarnição militar, subsistiram vestígios de alguns compartimentos e dois silos de época muçulmana.
Povoado Sazonal de Pescadores da Ponta do Castelo
O Povoado Sazonal de Pescadores da Ponta do Castelo, na Carrapateira, localizado numa falésia sobranceira ao mar, é um dos arqueossítios mais notáveis para a compreensão do modo de vida das comunidades islâmicas que se fixaram no território que hoje corresponde ao concelho de Aljezur.
Para além dos artefactos recuperados, cuja cronologia aponta para uma ocupação entre os séculos XII-XIII, nele se podem ver um conjunto de compartimentos destinados a uma comunidade que se dedicava à pesca e recolha de marisco para complemento da dieta alimentar; a salga e a seca de peixe, para transacionar com outros produtos, podia ser outra das atividades ali desenvolvidas, bem como a vigilância da costa para a captura de cetáceos, conforme sugere um osso de baleia ali recolhido.
Barranco da Alcaria
O BARRANCO DA ALCARIA foi reconhecido como local de interesse arqueológico depois de Leite de Vasconcelos e Bernardo de Sá terem ali escavado, no início do século XX, seis sepulturas de época visigótica, tendo os resultados sido publicados em 1904. Fazem parte do acervo Do Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Aljezur, um jarro e uma pequena bilha lá recolhidos.
Nas proximidades localizava-se uma ermida, dedicada a Santa Susana, da qual já não existem vestígios, junto a uma ponte provavelmente medieval.
Em 1998, durante trabalhos de colocação de condutas de abastecimento de água à zona Sul do concelho, surgiram quatro silos, escavados pelo arqueólogo Luís Barros, que proporcionaram um conjunto significativo de cerâmica, ossos de animais, conchas e alguns artefactos, datáveis dos séculos VIII a XII, materiais que sugerem que ali terá existido uma pequena alcaria (aldeia islâmica)
Sítio da Barrada
O Sítio da Barrada foi identificado em 2004, durante obras de beneficiação dos acessos à escola EBI/JI de Aljezur, que cortaram seis estruturas negativas, do tipo silo ou fossa, cujo enchimento incluía materiais cerâmicos claramente islâmicos. Nesse mesmo ano procedeu-se a uma primeira intervenção arqueológica de emergência que incidiu sobre um dos silos existentes sobre a plataforma calcoarenítica, permitindo confirmar a existência de mais, embora não tenha sido então possível dar continuidade ao estudo do arqueossítio.
Os trabalhos arqueológicos, reiniciados em 2010, permitiram até agora colocar à vista 43 estruturas com aquela tipologia (silo ou fossa), negativos de eventuais compartimentos e, na extremidade Nordeste da área escavada, as fundações de uma sólida construção de planta circular.
Para além do abundante espólio cerâmico recuperado, grande parte do qual proveniente de produções oleiras de âmbito local ou regional e profusamente decorado ao gosto das comunidades que habitaram o Sítio da Barrada, é também significativa a quantidade recolhida de restos alimentares (ossos e conchas) confirmando a importância da apanha de moluscos como complemento da dieta alimentar.
Foram mais raros os artefactos metálicos, em vidro, osso e pedra, correspondendo genericamente a peças utilitárias, compatíveis com o quotidiano de uma pequena comunidade islâmica.
Foi descoberto de um hipogeu na área Noroeste da escavação, estrutura funerária composta por uma antecâmara e uma câmara ligadas por uma estreita passagem, que foi parcialmente perturbada durante a subsequente ocupação islâmica. Aqui, a par de várias inumações humanas recolheu-se material lítico, algum com carácter votivo, nomeadamente instrumentos em pedra polida, micrólitos e lâminas em sílex, cronologicamente enquadráveis no Neolítico Final/Calcolítico Inicial.
O Sítio da Barrada apresentou assim ter semelhanças notórias, ao nível da arquitetura e do espólio arqueológico, com os sepulcros coletivos escavados por Estácio da Veiga, em 1881/1882, junto à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Alva, a cerca de 400 m para Sul do sítio da Barrada, que para além das ossadas de mais de 30 indivíduos, forneceu um rico espólio composto por artefactos em cerâmica, sílex, osso, pedra polida e um conjunto de 23 placas de xisto decoradas, para além de cerâmicas pré-históricas e islâmicas.
Necrópole de Vale da Telha
A Necrópole de Vale da Telha, localizada num lote devoluto da Urbanização de Vale da Telha, freguesia e concelho de Aljezur, é um espaço funerário da Idade do Bronze (ca 1500-1300/1200 a.C.), constituído por 18 sepulturas, em câmaras funerárias revestidas por lajes, do tipo cista, cobertas por tumuli, com dimensões variáveis, de pedras e terra, apresentando plantas de forma retangular, oval ou circular. Algumas das cistas exploradas oferecem grandes dimensões, o que é raro em tais contextos, podendo remetê-las para os inícios da Idade do Bronze (ca 1800 a.C.)